#44 de 100: Sobre uma estrela e contradições

Honestamente essa é a primeira vez que eu realmente me esforço para escrever algo diretamente a você desde aquele dia, mesmo supondo que possivelmente que você não lerá, independentemente de onde a senhora esteja.
Acho que você merece algo digno e esse é o "melhor" jeito que encontrei de demonstrar, até mesmo porque você tinha orgulho desse meu "talento" e aqui a senhora poderia ser "imortalizada". É, acho que é um bom jeito. Fora que essa é a primeira vez que me sinto efetivamente capaz de fazer algo à sua altura.
Existem dores para a qual as pessoas passam a vida inteira se preparando e se conformando, mas que mesmo assim nunca encontram-se efetivamente preparadas para enfrentá-las e em 23 de Julho desse ano eu conheci realmente o quanto poderia doer, por mais que eu já tivesse me "conformando" com o fato. Doeu bastante, inegavelmente, mas acho que passa.
Alguma hora para de doer.
Talvez.
Talvez sim.
Talvez não.
Não parou de doer. Só doeu menos.
Ainda dói, engasga de vez em quando, arranha a garganta e fica querendo sair. Mas nunca sai e nem nunca vai sair.
Acho que essa é a tal saudade que tanta gente fala.
Ignorando minhas lamúrias pela ausência, a senhora merece que eu diga, me perdoe.
Sim, me perdoe.
Não que você me pressionasse a qualquer coisa. Não. Muito pelo contrário.
Mas você vivia idealizando um pedido, me falando sobre e me perguntando sobre e não pude cumprir. Me perdoe por não ter realizado isso que a senhora queria pra mim. Ainda não sei se realizei -- a fitinha do meu tornozelo diz que sim -- mas espero que sim. Mas um dia darei um jeito de fazê-la saber, mesmo não fazendo a mínima ideia de como. Mas tudo se dá um jeito.
Fora isso não guardo arrependimentos e sei que não a desapontei, entretanto, gostaria de ter lhe dado o prazer de saber a realidade sobre, da maneira que tão vigorosamente desejava pra mim.
E fora o perdão que peço, agradeço os abraços, os sorrisos, as simpatias, bençãos, carinhos e lasanhas que já dera. E agradeço mais ainda por ser uma das pessoas que mais me fez acreditar em amor e que o mundo ainda tem jeito. Isso fora as lições sobre amar alguém por anos e anos após a perda e sobre seguir em frente mesmo com tudo indo para o fundo do poço. E essa é uma das maiores lições que alguém poderia dar.
A manhã/tarde que passei na exposição da Yayoi Kusama no Instituto Tomie Otake ficará eternamente marcada como uma das datas mais absurdamente contraditória dos meus 19 anos 3 meses e 14 dias de vida, porque em um dia em uma exposição e um tempo incrivelmente maravilhoso, uma das pessoas mais incríveis que já conheci se foi. Talvez essa exposição tenha vindo a calhar porque em certa sala, haviam luzinhas que me lembraram estrelas. Exatamente o que alguns -- e talvez eu também -- acreditem que a senhora tenha virado.

Colplay disse "Lights will guide you out and i'll try to fix you..."
Luzes te levarão, mas não tentarei te consertar. Nunca tentei e nunca pretendi.
Yayoi Kusama me fez ter a foto que mais me lembra de ti e de seus ensinamentos. E com isso me contentarei e seguirei em frente.

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